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De estagiário a CEO: o brasileiro que assumiu a presidência da Oracle aos 35 anos

O próximo evento do Vamos Subir acontece dia 13/11 (terça-feira que vem) as 19:30h com o Rodrigo Galvão, atual Presidente da Oracle no Brasil! Sua história é sem dúvidas uma das mais inspiradoras para jovens que estão iniciando sua carreira. Ele entrou estagiário aos 19 anos na Oracle e aos 35 assumiu a cadeira de Presidente da gigante de tecnologia. Quer participar? Preencha este formulário. Quer mais detalhes sobre sua história? Leia a matéria completa abaixo.

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A relação de Rodrigo Galvão com a Oracle começou quando ele tinha 19 anos de idade. No mural da faculdade onde ele cursava administração, uma folha sulfite dizia apenas o nome da Oracle e um contato do RH. Galvão ficou intrigado e mandou um currículo por e-mail, mesmo sem saber qual era a vaga. Pouco tempo depois, entrava na sede da multinacional como estagiário da área de contratos. Galvão iniciava, assim, sua trajetória rumo à presidência da empresa.

Dezesseis anos depois, quem senta à minha frente é um executivo jovem, atlético e sorridente. Estamos em um prédio no bairro do Morumbi, em São Paulo, e Galvão chega à sala mais nobre do andar pedindo para trocar de lugar com o diretor de comunicação. Dispensa a cabeceira da grande mesa de reuniões e senta-se ao meu lado, cruzando as pernas, à vontade, criando seu clima próprio de informalidade. “Me divirto nas entrevistas”, diz ele, citando que seu pai, sua esposa e sua irmã são jornalistas. Há sete meses, Galvão dá entrevistas como presidente. Seu jeito acessível e simpático não é fortuito. É por meio dele que o executivo quer imprimir um modelo de gestão “mais startup” – com menos silos e hierarquias, e mais agilidade para responder ao que mercado precisa. É assim que ele acredita ajudar a Oracle, gigante de tecnologia fundada nos anos 70, a realizar sua própria transformação digital. Ele quer vender infraestrutura e serviços em nuvem, e não mais apenas bancos de dados ou softwares licenciados. “Nestes anos todos, a Oracle já conquistou credibilidade e confiança. O que precisamos é ter leveza e excelência no atendimento - isso é o que o cara da startup de dez pessoas consegue fazer com mais facilidade”, diz Galvão. Nos últimos sete meses, o executivo buscou imprimir essa leveza em várias frentes. Nada fácil, vamos combinar, para uma empresa de mil funcionários. Para começar, criou um comitê executivo com 20 representantes de múltiplas áreas da empresa para discutir problemas ou melhorias que não são relacionados diretamente à estratégia de negócios. “Falamos sobre vagas de garagem, condições do nosso prédio, treinamento, mentoria, integração e mobilidade.” Uma das primeiras reinvindicações que chegou a Galvão foi a demanda por um bicicletário coberto. Fã de esportes e jogador de tênis nas horas vagas, o executivo instalou o espaço, bem como vestiários com chuveiros para os funcionários que se aventurarem pelas ciclofaixas de São Paulo. Ele mesmo é usuário assíduo das novas instalações e, quando não vem de carro, chega de bicicleta elétrica. “Demoro 16 minutos para vir, contra os 40 que posso ficar parado no trânsito.” O meio de transporte foi apresentado a ele há quatro anos, por um amigo que fundou uma startup de aluguel de bicicletas elétricas, a E-moving. Galvão afirma que, atualmente, 70 funcionários vêm de bicicleta – mesmo morando a distâncias consideráveis da empresa. Ele até cita um diretor que contou ter percorrido mais de 20 quilômetros de bike para chegar à sua casa, em Osasco. Após o expediente, haja fôlego. Os exercícios foram estimulados também dentro da empresa, e Galvão gosta de mostrar a escada de emergência que ganhou adesivos e virou pista de cooper. Quem quiser se movimentar por ali encontrará uma mensagem de incentivo em cada andar. No local onde dá expediente das 8h30 às 20h, o CEO também derrubou as paredes de vidro da diretoria, separou algumas mesas e reorganizou outras. Quer que a empresa saiba que ele está acessível. “Há iniciativas simbólicas que alteram o visual e ajudam nesse sentido. Startup, por exemplo, não tem mesa fixa”, diz. Todas essas ações também são metas a serem cumpridas até o fim do ano fiscal de 2017, estampadas em um totem na frente do elevador. Entre elas, prioridades para o novo CEO, como: “papo aberto com Rodrigo” (feito); “bike Oracle” (feito); “portas abertas com VP” (em andamento) e “espaço relax”.

Além de mudanças internas, para “transformar o diálogo em organismo vivo”, como Galvão define, uma iniciativa ocorre do lado de fora. No prédio vizinho, onde funciona um coworking, a Oracle alugou um espaço para montar um laboratório de inovação. O presidente quer que seu time construa soluções ao lado de empreendedores e seja menos impactado pela hierarquia. É ali que a empresa já está criando soluções customizadas para clientes, envolvendo big data, IoT (internet das coisas), realidade virtual e inteligência artificial, a partir de parcerias com startups. Enquanto isso, seu exército de vendedores está na sede, buscando novas aplicações e prospectando empresas. “Queremos que nossas soluções sejam as mais abertas possíveis – dos aplicativos ao ERP em nuvem – para que consigamos incluir a tecnologia específica que o cliente deseja”, diz Galvão.

De vendas ele entende. Quando entrou na empresa, o então estudante estagiou por um ano na área de contratos, que ficava ao lado da área comercial. Interagiu com pessoas, fez seus contatos, e foi chamado para o primeiro nível de vendas. Entre as suas funções estava pegar o telefone para negociar contratos e prospectar clientes. A essa altura, a Oracle já estava pagando seus estudos. Telefonema vai, telefonema vem, e Galvão conheceu um alto executivo de vendas, que o chamou para ir a campo. De venda em venda, ele se especializou no atendimento à área de telecomunicações e mídia – um grande mercado até hoje para a empresa, que tem a Oi entre os clientes –, virou diretor de contas, depois diretor de uma área inteira, até assumir a operação de vendas da América Latina toda. Quando Luiz Meisler, vice-presidente da Oracle América Latina, o convidou para assumir a presidência do Brasil, o jovem Galvão já tocava 70% do negócio na prática. Os desafios à sua frente, considerando as novas tecnologias e as demandas dos clientes, são amplos. Do ponto de vista da cultura corporativa, o executivo quer criar uma “liderança criativa”, “gestão bottom up” e “profissionais que saibam se adaptar” para dar conta das “mudanças exponenciais” que impactam as empresas atualmente. Galvão incorpora o discurso mais citado dentro da Singularity University, instituição de ensino do Vale do Silício que tem atraído os CEOs modernos. Galvão esteve lá em 2017 para um curso executivo. “Antigamente, quatro anos era um prazo natural de transformação para uma empresa. Hoje em dia, esse prazo é de seis meses. Tudo mudou: a forma como devemos nos relacionar com os clientes, como consumimos produtos, como nos conectamos aos outros. E isso impacta todo o negócio.” O caminho da transformação digital da Oracle passa por se vender como uma empresa que oferecerá infraestrutura em nuvem. A meta é converter clientes antigos e novos e atrair as pequenas e as médias empresas, público que ganha participação significativa na receita da companhia. Entrar na briga da computação em nuvem é, no entanto, estar disposto a encarar uma nova concorrência – players como Amazon, Microsoft e IBM são competidores que a Oracle tem pela frente. “No Brasil, estima-se que 15% dos workloads atuais rodem na nuvem. Há 85%, portanto, que rodam no modelo físico tradicional. A maioria deles está com a Oracle já”, diz Galvão. O desafio é convencê-los a migrar. O argumento para isso é que abrigar serviços na nuvem – dos dados à finanças, usando o produto ERP – pode gerar redução de custos (espaços físicos de servidores, por exemplo), bem como a possibilidade de trabalhar aqueles dados de uma forma diferente. Outro foco de inovação, segundo Galvão, é investir na área de aplicações customizadas para empresas, que abarcam desde melhor forma de organizar dados até o mapeamento de tags em redes sociais. Para cuidar desta área e do ERP, Galvão e Luiz Meisler trouxeram Maurício Prado, ex-presidente da concorrente Salesforce – ele foi demitido da empresa após polêmicas na festa de fim de ano, em 2017. “É um profissional super qualificado e muito respeitado no mercado. Ele vem com a estratégia necessária para ganharmos o mercado de aplicativos e de ERP”, diz Galvão, mostrando-se feliz com a chegada de Prado. Despeço-me de Galvão após uma hora e meia de entrevista. Antes de ir, pergunto de que maneira ele explica para os seus dois filhos o que a Oracle faz. Ele não titubeia. “Digo que é uma empresa de tecnologia que permite aos seus clientes oferecer aquilo que o mercado quer. Seu negócio é vender sabão em pó? Deixa que eu cuido de toda a tecnologia para você”, diz Galvão, encarnando o bom vendedor que aprendeu a ser nesses dezesseis anos – e que cadeira nenhuma de presidente parece ofuscar.

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